O cenário da tribo política dominante, pese a transição, na liderança, não dá sinais de ter um plano coerente de reforma da angolanidade e do poder do Estado, para saída da podridão partidocrata, que desde 1975, atolou o país.
Por William Tonet
À época (1975), aqueles que consideramos nacionalistas, patriotas e revolucionários socialistas, excluíram, completamente, a cidadania social, substituindo-a, pela cidadania partidocrata do MPLA, apresentada como a melhor, por ser de cariz socialista.
Com chavões de esquerda, proletarizaram as mentes da maioria dos cidadãos, numa pretensa igualdade, induzindo-os a odiar a democracia participativa, eleições (previstas nos Acordos do Alvor) e liberdades: de Imprensa, Expressão e de Manifestação.
Com o passar de cada ano, muitos do ontem (guerrilheiros libertários/proletários), recauchutados no desnorte, desfilam no hoje, orgulhosamente, como proprietários, substitutos vorazes de um capitalismo sem sensibilidade social.
E como defensores da aldrabice revolucionária, caminharam nos trilhos da intolerância, mandando para a sarjeta todos quanto, na diferença de pensamento, os questionassem.
Substituíram, então, o verbo pelas armas, superando o arsenal do colonialismo português, para fazer do unanimismo absoluto a política de Estado da República Popular de Angola, sem padrões de veios de água, sociais e económicos sustentados.
Esta opção foi a chave mestra para muitos deles, à luz e olhos do cidadão, por terem atravessado a ponte de guerrilheiros-revolucionários a ladrões e corruptos invertebrados, assassinos da dignidade, da liberdade e da comida de 20 milhões de pobres.
Para desgraça colectiva, em 2018, pese a transição, no partido do poder e Presidência da República, o regabofe continua. E, continua por o MPLA não ter crescido, intelectualmente, ao ponto de se considerar órfão se não for liderado por quem detenha a Presidência do país.
Isto tem um nome: continuidade do absolutismo e idolatria num homem, que no controlo dos outros poderes: legislativo e judicial, partidocratamente, assumidos, os manieta(rá) em nome de um ego parcial e discriminatório.
As consequências virão depois, quando e em que dimensão, poucos são capazes de vaticinar, mas que a calema ou tsunami, não vai “destruir” só o MPLA (pela sua dependência), já é uma certeza. Serão arrastados todos, políticos e intelectuais, que podendo intervir de forma diferente, agora, desfilam a omissão, numa acomodada covardia.
Como é possível assistir-se impávida e serenamente, numa altura de profunda crise económica e social, com 20 milhões de pobres, carentes de um prato de comida e vacinas para vencer as endemias, o mais alto mandatário da República, rubricar a compra de mais armamento militar, na Alemanha, não para dar esperança à alma dos autóctones angolanos, mas capaz de os mutilar, dividir e matar?
Oxalá a opção de substituir a comida, por armas, dê certo.
As exonerações do MPLA, substituídas por exonerações do partido, produzam resultados.
A barroca política económica, assente no proteccionismo aos bancos comerciais e nas teses do capitalismo selvagem, para privatização do Estado, tem sido apenas, promotor do desemprego, da inflação, da desconexão da moeda e será incapaz de gerir as dolorosas e insensíveis receitas do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Assim, a maioria dos autóctones que, ingenuamente, acreditaram ter votado na promessa dos 500 mil empregos, estão a provar o sabor amargo de uma fome, sem precedentes, da alta pobreza e indigência generalizada, que superam, em 80%, as últimas décadas do colonialismo português.
Saudosismo? Não! Realismo.
No todo, não sou impotente. Não sou covarde. Assumidamente, revolucionário da indignação e revolta, hoje minoritária, que não se cala, nem se vende, por trinta dinheiros, manterei sempre hasteada essa bandeira.